Já não sou quem era.
A vida dá-nos encontrões, a vida dá-nos empurrões, há que saber distinguir.
Os encontrões derrubam-nos, os empurrões fazem-nos avançar. Há que saber distinguir uns dos outros para saber quando avançar e quando nos levantar.
Ao longo dos meus 32 anos (quase 33) levei encontrões e alguns empurrões que me mudaram, transformaram e me moldaram para o meu tão apreciado feitio(zinho). Por tudo isso já não sou quem era, cresci, adaptei-me a todas as novas funções, como homem, amigo, marido e amante.
O que reparo é que hoje em dia torna-se mais complicado fazer com que os outros se habituem a nós, numa sociedade cujos elementos cada vez mais olham para o seu para os seus umbigos, somos obrigados a uma adaptação constante e isso por vezes impede de sermos quem somos na realidade.
Hoje, mais do que nunca, somos obrigados a dizer que já não somos quem éramos ontem e amanhã já não seremos quem somos hoje.
No nosso trabalho deparamo-nos com situações angustiantes em que a polivalência exigida faz com que nos superemos diariamente e que a nossa capacidade de encaixe perante essas situações se torne cada vez maior, isso faz-nos crescer como profissionais mas também como pessoas. No dia seguinte o profissional ganha mais experiência, e será recompensado não só no trabalho executado mas também no campo pessoal, onde a realização de cumprir uma tarefa mais rigorosa será mais importante do que a frustração do dia anterior em que o obstáculo não foi ultrapassado. Hoje já não somos os profissionais que fomos ontem.
Os nossos amigos cada dia precisam mais de nós e nós deles as angústias, as mágoas, os prazeres e as emoções partilhadas são cada dia mais abrangentes e mais diferenciadas, nós como bons amigos temos de estar actualizados para poder responder a todas as suas necessidades e arranjar coragem para poder denunciar os seus erros e também reconhecer as nossas faltas perante eles. Hoje já não sou o amigo que fui ontem.
O facto de o amor ser cada dia mais ambicioso, exigir mais de nós do que por vezes somos capazes de dar, faz-nos ser outra pessoa, que por incessantes tentativas que façamos para outra pessoa se sinta melhor junto de nós, faz-nos ser mais exigentes com essa pessoa também. As nossas necessidades de hoje serão mais exigentes e consequentes amanhã, até que se dá uma ruptura, não por deixarmos de amar essa pessoa, mas sim por não conseguirmos ser o que nos é exigido e também por não nos revermos mais em nós próprios. A nossa essência acaba por se perder num mar de exigências para com os outros e para connosco. Hoje já não sou o amante que fui ontem.
Enfim já não sou quem era.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Já não sou quem era
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