segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Torres da Paz

Quis um dia eu, ser quem nunca serei, querer quem nunca me quis.

Senti o ardor de um coração despedaçado que me deixou prostrado no chão como um defunto que ali encontraram. Quis o sonho que comanda a vida imaginar-me. um dia, alguém que pudesse compreender o que nunca consegui.

O sonho transformou-se, a realidade parece mais cruel tornando-se em algo mais cru e seco, tornou-se numa vida que desconheço onde acaba.

Não consigo que o barulho de um comboio perdido numa linha que não entra em lado algum e se perde no espaço e no tempo de alguém que não quer que ele avance, não quero que o corte que hoje fiz me faça arrepender do que não fiz.

Quero me enfurecer contigo, quero lançar raios de descontentamento por cada vez que me apareces numa mente, já de si perturbada, pelo barulho de uma chuva que me parece ácida.

Porque me deixas sem ver na floresta, perdido na imensidão da dúvida, porque me deixas tu sem perceber quem realmente és.

Não te sinto, não te anseio por um minuto, no entanto fizeste-me falta por uma vida inteira de ardor, de abismo, como uma pneumonia que me impedia de respirar por não estares a meu lado.

Sopra-me a alma, diz-me que quando chegar a ti, te entregarás a uma evidência que nunca considerei, que sempre me fugiu.

Quero entrar nessas torres da paz em que me abrigarei, em que procurarei pelo abrigo que sempre tive em castelos medonhos e impiedosos, feitos numa madeira rangente e bafienta, retardada como uma foto tirada há décadas.

Sobe a mim, sobe a uma luz que chama por ti, para te fazer voltar à escuridão de uma vida que planeei para nós, sem tu saberes, sem tu imaginares, pois nunca te confidenciei.

Senti que era mais um que conhecias em cada vez que me encontravas. Contornaste-me como um objecto a que somos indiferentes, que nos obriga a mudar a direcção, tornaste-me em algo que te causa angústia.

Deste-me 5 moedas de prata, para que te amasse enquanto que apenas seria necessário um sorriso enquanto te interrompia, nas tuas voltas frenéticas de faíscas e sons que achei estranhos e incompreensíveis,mas que para ti faziam mais sentido que eu.

domingo, 18 de outubro de 2009

Dançamos?

Ouvimos aquela música vezes sem conta, pretendemos que mais nada se passe à nossa volta, exigimos que o som nos embriague do que sentimos naquele momento.

Receamos de olhos fechados que esta talvez seja a nossa última dança, enquanto nos perdemos nos braços um do outro, não receies, deixa-te levar, deixa-me acreditar que neste 4 minutos que nos restam seremos um só.

Ao som que sentimos os dois, as nossas vidas se cruzarão e a beleza de um bater do coração mais acelerado comandará as nossas vidas e enquanto sentimos os acordes de uma guitarra que nos atravessa a pele e nos toca a alma, tentamos seguir caminhos separados.

Nestes breves minutos que nos sobram quero te pedir que me abraces, que me sintas junto a ti para poder continuar a sonhar, para poder continuar a viver por ti.

Enquanto nos for possível, até que aquele som que nos percorre o corpo finde, quero dançar contigo, movimentar o corpo junto ao teu, sentir o teu peito no meu, o calor das nossas faces juntas, e segredar-te algo ao ouvido.

Quero tentar de novo, quero que estes sejam os 4 minutos mais longos de nossas vidas, que sejam aqueles minutos que consigam a obra de uma vida inteira, para que da próxima vez consigamos fazer tudo de novo, mas mais bem feito, com a perfeição de dois seres que se amam e se perdem em conjunto.

Não estou pronto para o final, não estou pronto para deixar de seguir-te nos passos desta dança que durará apenas uma fracção de nossas vidas mas que terá a importância das marés, que terá a importância da chuva na terra árida que anseia por vida.

Não me lembro da última vez que me senti tão bem, não me lembro da última vez que sobrevoei montanhas como um avião de papel, feito por mãos de uma criança cujos olhos brilharam assim que me viram partir. Não quero perder esta leveza que me foi roubada uma vez e que agora recupero contigo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Voar

Que a mente se liberte por uns instantes, que a vida seja aquilo que sempre ansiei que fosse.

Que os apêndices de dor que me preenchem a mente se desvaneçam por uns momentos que serão considerados preciosos.

É esta a fantasia com que vivo, de me sentir como uma ave que voa num sentido sem qualquer destino e apenas pelo prazer de planar os céus, pelo prazer de sentir o ar passar por debaixo de seu corpo, imune a pressões que a trazem para baixo e tentam findar com o júbilo de voar.

Que se libertem as correntes de expressão, que se liberte a palavra para que possa dizer simplesmente o que me vai na alma ansiando que o marasmo do silêncio termine.

O sentimento dominante que me faz desejar por algo mais do que simplesmente o olhar que se perde na imensidão do toque que existiu um dia, que acabe de uma vez por todas ou então que me leve a agir com as forças que um dia desejei sentir.

O entorpecimento dos músculos de um corpo que experimenta a idade e de uma mente que se ressente dos atropelos com que a afligi faz com deixe de tentar de sentir a emoção de viver, passando a estar dormente numa vida que há muito procura um novo sentido.

Um dia sonhei cair de uma ponte bem alta, uma altura que me fez perder a noção de queda e passei, por instantes por uma sensação de voo a pique como uma ave de rapina e o que deveria ser um simples pesadelo transformou-se num sonho que jamais esqueci, transformou-se numa imensa fantasia sem que qualquer explicação fosse necessária.

Uma metáfora já batida, a de voar e de querer estar junto a ti durante horas sem limite, para que dessa forma pudesse viver o sonho de te sentir mais uma vez pois és tu que me fazes voar, és tu a fantasia que me foge por entre os dedos, e não sei o que fazer para a manter.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Sentir


Não quero perder o sentir, pois se o perder e não o conseguir encontrar conseguirás colocar-me no rumo certo de novo? Serás capaz de me indicar o caminho?

Serás de novo a minha bússola? A estrela por onde me guiarei?

Necessito do teu acordar, anseio pela tua voz nas manhãs que se tornam menos claras para mim, careço do teu cheiro do teu sabor que me leva num turbilhão, numa ansiedade desmedida e que me faz encontrar o rumo certo para uma vida que todos os dias me cega com a sua incerteza.

Por onde ficámos, por onde andámos estes dias que se tornaram meses, nestes meses que se tornaram anos, quando contávamos os segundos para voltarmos a ficar juntos de novo.

Perdemo-nos um do outro quando as luzes se apagaram e nos envolvemos em sonhos que nunca foram os nossos, como o fumo de um cigarro dispersámo-nos pelo ar.

A respiração tornou-se pesada, como se respirasse chumbo em vez de ar, as lágrimas caem-me pela alma incessantemente enquanto os olhos ficam secos, sem expressão, sem vida.

As palavras tornaram-se em cortes de papel que me perseguem os dedos feridos, fazendo com que não consiga exprimir o que sinto, como se me comprimissem o peito, como se necessitasse de uma explosão de sabedoria para dizer necessito sem te trazer dor.

Gostava de te dizer que tudo está no mesmo altar em que te adorei, em que te venerei, que não me afastaste, que o que me fazes sentir continua a acordar-me nas tais manhãs cinzentas tornando-as mais claras e cheias de vida.

Dá-me a tua vida em troca da minha, foi o que pedimos um dia, foi o que sentimos sem pudor, sem receios, sem nos refrearmos por uma moral. A certeza que fez com que nos entregássemos fez também que as nossas almas se cruzassem e se iluminassem numa só, no entanto as dúvidas instaladas fizeram com que corrêssemos fugindo de algo que nem sequer conhecemos, com medo. Por momentos as nossas almas deixaram de se tocar.

Sinto a tua falta…