terça-feira, 7 de outubro de 2008

Perfume

Ressenti-me esta noite do cheiro do éter que me entorpeceu as pernas e me toldou o andar, nas ruas por onde seguia sem me ver reflectido nas poças de água que a chuva do dia deixou.

Vi vultos que me prendiam a atenção pelas formas disformes que surgiam de rompante, sem beleza, sem o brilho natural abatidos pelo cansaço de mais um dia passado.

Calei-me com as vozes de mendigos que me suplicavam por algo que não entendi, ou fiz por não entender, a sua raiva alimentou-me por esses breves instantes em que me cruzei com eles e senti a ira nos seus olhos raiados na noite.

Continuei a minha viagem de percalços desconfortáveis em que o perdão foi a última coisa que me passou pela mente, em que as lembranças da dor foram mais fortes do que as de alegria que me abençoaram durante a vida.

O fim fazia mais sentido, seria o mais coerente, imaginei-o fechando os olhos e tentando pensar no nada que se seguiria, mas o nada acabaria por se tornar em tudo na minha mente perturbada, minada por recordações violentas e sem cor.

Esperei pela revelação que me surgiu por entre uma janela semi-cerrada por onde espreitei e senti o que me viria a acordar para algo que não esperava nem que sabia ainda existir, a dor lancinante do acordar veio com o teu perfume.

Enquanto espreitava o teu vulto perfeito sobre uma luz que não chegava para perceber quem eras, mas que me chegava para apreciar as tuas formas perfeitas, para jubilar com o prazer que me deu observar-te por breves instantes enquanto deixavas cair a tua camisa de noite cujos reflexos do cetim de que era feita, deixavam escapar um pouco mais do que pensei ser a perfeição.

O perfume que usavas durante a noite, deixava adivinhar que não a passarias só, afastei-me lentamente da janela que usei para espreitar a vida, que usei como uma injecção de adrenalina no peito que me levantou de uma não vida que me parecia certa.

A influência de uma beleza desconhecida foi, naquela noite, o ar que necessitava para conseguir o reflexo da minha pele numa vitrina por onde passei, deixei de ser o espírito que vagueava sem rumo nessa noite.

Deixaste em mim o perfume do desejo sem te ter tocado sem saber quem eras, passaste a ser a minha miragem perfumada, passaste a ser a minha visão sentida como uma musa que nem sequer sei como chamar.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Na ponta dos dedos

Na ponta dos dedos tive o teu corpo, percorri quilómetros do teu prazer, da tua fome, da tua angustia. Toquei os teus lábios quentes e senti a tua respiração que me atravessou a pele e que paralisou por instantes os movimentos ofegantes do meu peito.

Na ponta dos meus dedos espetei as agulhas do pensamento para sentir a dor que me fugia de estar longe de ti.

Detive momentos na minha mente, momentos em que o prazer me dominou o corpo, em que abandonei a razão e me perdi em ti quando foste tu a tocar-me como só tu sabes.

Com a ponta dos meus dedos desafiei deus ao tocar-te sem a sua aprovação, sem a bênção de anjos ocupados pelos sons emanados de harpas que nos olhavam com desdém.

Na ponta dos dedos tive o mundo ao sentir o tremor do teu corpo enquanto o tocava, enquanto o profanava como se de um templo sagrado se tratasse.

Toldei a minha mente com o toque, pequei com ela, maculei o que de mais puro havia em mim e não me arrependo, pois tudo o que fez sentido foste tu, tudo o que importava era o sentir-te como senti.

A pele branca que te cobre, os cabelos negros que cobrem o teu pensamento, entorpece o meu corpo, inebria-me a alma, quis tudo o que pensei ter direito, quis tudo o que acabei por perder.

A calmaria de uma noite, traz-me a lucidez que necessito para que, por instantes, consiga aceder a mim mesmo, como se de um segredo bem guardado se tratasse, o meu corpo fundiu-se com o teu, a minha identidade perdeu-se.

Quando te toquei com os meus dedos.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Quimera

A tua perigosa honestidade que me deixa atónito, as mentiras que te pedi para me dizeres tudo faz sentido na rua que percorremos.

Vem depressa amor, não olhes para trás envolve-me nas estrelas azuis quando a tarde deixa de existir.

Penteias os cabelos, olho-te com saudades do amanhã do dia em que me deixas solto por umas horas, em que me libertas do teu olhar. Sinto saudades.
Para onde vais quando me deixas? Quero seguir-te, quero ser atrevido contigo na rua e tocar-te com intenção sem dares por isso.

Quero fazer parte do ar que respiras, quero que abuses dos teus sentimentos, que me faças sentir o arder angustiante de uma paixão desmedida sem que nada faça sentido. Desejo esse sofrimento que me faz sentir cada dia mais vivo.

Percebes a obsessão de um amor cru sem sentido? Percebes a obsessão de quem sofre por mais um toque, por mais um minuto passado num quarto limitado por quatro paredes, em que tudo ali faz sentido menos a porta de saída?

Torna-me os dias perfeitos, em que passeamos numas ruelas inundadas de uma sangria qualquer, inventadas na quietude da nossa sala deitados num tapete enquanto ouvimos uma música qualquer e prometemos algo que ambos sabemos que nunca iremos cumprir. Mente-me mais esta vez, eu mereço-o e rogo-te para tal.

Faz com que as nossas palavras façam sentido neste segundo de uma manhã que parece passar mais depressa que os nossos desejos.
Deseja-me apenas uma ínfima parte do meu desejo por ti, serei feliz pelo que isso significa e por tudo o que me trará.

Todas as traições ficaram para trás, todos os maus entendidos foram esquecidos, apenas o desejo de mais ficou, apenas o desejo de ti ficou. A perdição de uma cegueira sem fim que me levou a um inferno que me quis guardar de meu livre grado, tudo isso foi uma mais valia do que passámos os dois.

Sim.

Sim a um poder maior, sim a uma grande paixão.

Sem medos, sem pudor, sem dor, sim a tudo o que nos faz sonhar pelo amanhã.

Sim a algo transcendental, a algo que nos deixa fora de nós, sim àquilo que nos faz sonhar pela vontade de algo mais…

Sim à vontade, sim à personalidade única de cada um de nós, que nunca ninguém nos retire isso do nosso âmago, da intimidade do nosso ser.

Imperam os valores de cada um, imperam as nossas inabilidades e as nossas capacidades, impera o nosso ser.

Capazes de um dia podermos demonstrar o que realmente sentimos, o que nos vai movendo o que nos faz acordar de manhã num dia de chuva, adiamos com receio do que um simples juntar de 3 letras nos pode trazer.

A negatividade paga-se caro, o receio de aceder a uma vontade também, não chega o que se pensa, a acção torna-se imperativa.

A limitação que vem de dentro de nós, a timidez de um grito mudo pode impossibilitar o dia seguinte de nascer com mais sol, com mais vida.

Chegou a altura de assumir erros, vontades e tudo o que nos faz ser quem somos, assumirmos-nos por completo, algo que por inatingível que pareça, será possível de alcançar se tivermos audácia para o fazer. Procuramos subterfúgios, procuramos desculpas reais para não o fazer mas na realidade o que nos assusta não é o que pensam de nós, mas sim o que julgaremos de nós próprios ao descobrir quem realmente somos, quem realmente amamos, o que realmente nos motiva.

Seres de tão feios que somos, derivados pelas nossas motivações optamos por nos esconder por de trás de uma censura auto-infligida para que estas nunca cheguem ao de cima do nosso ser.

Sim, sou como sou, defeituoso, asqueroso, impetuoso, arrogante… todos os adjectivos que aqui possa colocar não me identificarão pois sou muito mais do que isso, sejam eles positivos ou depreciativos, o meu verdadeiro eu é demonstrado pelas minhas acções que não me cabe julgar, apenas assumi-las.

domingo, 6 de julho de 2008

Anjos caídos

Vagueámos na noite, como que perdidos antes de o dia nascer.

Deambulamos por caminhos que nos supostamente nos indicariam as cores da vida, as razões de algo que nunca chegámos a entender convenientemente.

Levámo-nos por os tais ideais, caímos pelas nossas imperfeições, pelas tentações que nos foram aparecendo pelo caminho, enquanto um Deus que nos lançou para um circo de feras contempla com desdém as nossas acções e nos amaldiçoa pelo não cumprimento das suas leis.

Sentimos a dor lacerante da proscrição imposta por quem um dia nos amou como a seus filhos, a queda a que nos sujeitou como que uma acção pedagógica, como que um exemplo a retirar, nos faz cair nos braços de uma humanidade que de tão humana se replete de erros e de imperfeições.

Como construtores da torre de babel, fomos amaldiçoados com a língua afiada que nos separa de tão diferente que é.

Um dia guardiões do éden para no momento seguinte, apenas gritarmos entre os sons distintos de cada arma que um dia empunhámos com o vigor de uma vida que se defende e que vemos escorregar por entre os dedos.

Através dos olhos de um anjo que chora pelos seus irmãos caídos vemos a inexistente confiança numa humanidade que demora a se encontrar.

Somos anjos caídos que perderam a beleza do voo, em troca do sangue que jorramos e que nos faz sentir vivos, abdicámos de uma imortalidade em troca de um momento, em troca do entendimento, da sabedoria, do amor…

Experimentamos o peso da troca, no entanto o tão desejado arrependimento não imerge pois o ímpeto do querer sentir esse mesmo peso que tão nos custa carregar é mais vigoroso e mais intenso que a santidade inicialmente proposta.

Trocámos tudo por essa singular capacidade, a de sentir, no entanto, a dormência que nos aflige em grande parte da nossa vida, faz com que esqueçamos o propósito de uma queda tão colossal, dormência essa, que deriva do medo que temos de evidenciar o que sentimos, pois a fragilidade com que somos confrontados com essa hipótese cobre-nos os olhos como se de um muco baço se tratasse.

Uma queda que deveria significar, um acordar para a vida facilmente se pode transformar em algo estéril e fútil. Abdicámos de asas pelo sentimento que não admitimos.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Nostalgia

Lembro-me daqueles dias que já acabaram e que não voltam.

Lembro-me do sorriso que deste quando te vi a primeira vez, da inocência com que crescemos e que se perdeu pelo caminho.

Dou por mim recordando os passos dados numa juventude que nunca foi perdida, que tentei nunca gastar, reconfortando-me com o que fiz, lamentando o que deixei por fazer.

Espero apenas a redenção pelo que não fui capaz de fazer, espero apenas que o tempo passe agora um pouco mais devagar para que tenha hipótese de o fazer, por cada inverno que passa por cada sol que se põe, eu espero e desespero para que o próximo demore uns segundos mais.

Nas recordações do que vivi encontro o conforto que necessito para seguir em frente, a motivação para a vida que nunca parou, nem por um segundo.

Recordo os beijos que dei, as músicas que ouvi, os mergulhos numa praia que me aguardava pacientemente no verão. Recordo-me de brincadeiras sérias que me fizeram crescer, da falta de ar que um murro na boca do estômago provoca quando me metia em lutas pelos motivos mais inócuos que possam imaginar.

A dor que senti quando alguém me deixou para sempre pela primeira vez, a angústia que passei por nunca me ter despedido de quem me fez falta uma vida inteira. Dores que nos atormentam a alma como ferrolhos em brasa cravados numa pele virgem de cicatrizes.

O sentir da mão suave que me acordava numa manhã perfeita e me dizia que havia de seguir naquele comboio, que me levava aos sítios mais desconformes por onde andei, a estranheza ao ver alguém dormir numa grade que o aquecia com vapores vindos do chão, menos complexa que o facto de já não o achar estranho quando o vi acontecer de novo.

Recordações, algumas de que me orgulho, outras nem por isso fazem parte da minha vida, olhando para trás com a nostalgia que merecem, tento me lembrar de que não me arrependo do que fiz, aprendi com isso. Pequei como qualquer um e espero que o pecado não me largue para que possa compreender melhor o que faço de errado e me possa corrigir ao longo do caminho que percorrerei.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Alegoria

Essas ruas cheias de gente, gente sem rumo nem guarida, gente dispersa por ideais que a fizeram perder o leme da sua própria vida, a rima dos seus versos.

Na multidão de um só, se encontra aquele que não se prostituiu nas ruas das palavras vomitadas por quem manda. Na multidão de um só se encontra aquele que não se deixou levar pelas ideias de outro e foi seguindo as suas como lei.

Aquele que conseguiu, no meio de tantas palavras lançadas no ar, finalmente ouvir a sua própria voz, acabou de conseguir a vitória da sua vida, venceu a sua própria vontade de ser mais um numa multidão em que já não se reconhecia.

Andar pelos seus próprios pés, é algo que o apavora, mas aquele que finalmente se encontrou nas ruas de todos e não de apenas alguns, ganha força e vontade. Contra os moinhos de Quixote ele marcha com a vontade dos loucos e a sobriedade de quem finalmente consegue olhar e compreender que o que o atemorizava, não passou de uma peça de fantoches que se manipulavam por de trás de uma cortina de fumo…

No meio da sua correria desenfreada ele olha para a desolação que o rodeia. Anjos caídos, beijos corrompidos, beijos que haviam sido dados pela humildade de quem ansiou por aquele momento.

Os puros, esses tontos que nada esperavam senão pela ilusão de algo abstracto na vida como a verdade nua e crua, agora ensanguentada pelas mordidas dos cães que a tentaram abater, os puros que apenas ousaram sonhar por algo que lhes parecia simples, esses, acabaram na dormência da desilusão.

O coração dispara, a garganta fica seca com o grito de uma revolta intrínseca que o queimava por dentro, finalmente os seus olhos estavam abertos, finalmente a inquietação de uma alma adormecida saiu à rua.

No seu grito reparei que chamava por ti e por mim, continuei o meu caminho sorrindo baixinho e timidamente pensei: - Finalmente…

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Voa

Voa para longe, voa para junto de mim, não te percas.

Espero por ti, espero por tudo o que representas, desespero na espera. Que seja curta, então. Que seja enquanto estiver de olhos cerrados, dormindo num sono profundo, para que não sinta o tempo passar.

Não deixes de voar, não deixes de sonhar. Veste o teu pijama e voa até mim, em sonhos, não importa. Sabes que os nossos sonhos são simples, sabes que para além da presença do sonhador, que apenas exigimos a presença de alguém com quem sonhamos, não é muito.

A simplicidade de um simples toque, que nos negam, que negamos a nós próprios, por questões estranhas ao ser e ao instinto. A mais pura incoerência do ser, a mais pura negação do ar que se respira, e cuja falta só sentimos quando nos é recusado.

Atravessa as paredes, atravessa os rios que separam as margens de um ser uno que um dia ficou rasgado em dois. Intensifica a busca do que procuras, para que não nos volte a afastar.

Navega comigo até nos perdermos no mar desta praia onde, até agora, apenas molhámos os pés…

Nunca seremos completos enquanto ficar algo por fazer ou algo por dizer, por isso rogo que, completes o teu voo e chegues onde o vento te levar, para que um dia possamos concluir aquilo que um dia começámos.

sábado, 3 de maio de 2008

Palavras

Não mudes de assunto, não contornes o que dissemos um ao outro, deixa-te levar pelo cheiro doce das palavras. Não abandones a conversa quando ela começa a queimar.

Deixa-te levar nos braços dos sons que saem dos meus lábios, enquanto eu me envolvo com os teus, sabes que sempre amei os teus. Sabes que sempre amei que me dissesses que me amas, e como o sabes.

Não abandones esta troca de palavras que nos seduzem e nos levam por caminhos por onde ansiávamos há muito conhecer. Em sonhos dissemo-lo, em sonhos não tivemos medo de o sentir. Não te fiques pela vergonha, lamenta apenas o que ficou por dizer e lamenta mais ainda pelos beijos que nunca demos.

Nunca fomos um caso mais, nunca fomos como outros, fomos só nós os dois, enquanto nos levámos pela leveza das palavras, enquanto nos deixámos levar pela leveza que os lábios nos deram às almas.

A ternura de uma excitação, a bênção de um olhar que nos trazia de imediato, um melhor nascer do sol após uma noite em que apenas palavras foram proferidas. Nunca em vão.

Os nossos discursos nunca foram os mesmos, mudávamos sempre que nos ensoberbecíamos de assuntos sem nexo, começando de novo. Desta vez falando apenas de algo que só nós experimentámos, deixando pelo chão os fatos que vestimos durante o dia, envolvendo-nos apenas na pele das palavras, trocando-as pelos nossos corpos.

Se me largares? Caio. Se me deixares? Sigo contigo. Se me ouvires? Sorrio. Se me falares? Respiro. Se me sentires? Vivo.

É tão simples como isso.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Tempestade

No meio de ventos que me fazem perder a noção de onde estou, oiço trovões que me ensurdecem, vejo-me debaixo da chuva que me molha a alma seca e suplico por mais.

Quero a intensidade do gelo que me corta a pele, quero sentir o vento puxar-me para trás impedindo-me dessa forma de avançar para o abismo que se aproxima. Quero navegar naquele oceano louco de raiva, usando as mais portentosas embarcações como joguetes nas suas mãos, ludibriado pelo seu poder. Desejo desejar, ultrapassando assim a dormência e poder sentir de novo o sangue correr-me nas veias como louco.

Quero vergar e não partir, se isso não me fizer sufocar, se isso não me fizer perder o ar que me mantém vivo, para depois acordar e sentir o sentido da vida, então não verei resultados nas minhas acções mundanas.

Anseio ultrapassar o inferno, olhar o diabo nos olhos e rir-me dele, quero sentir o prazer de me queimar na sua pele enquanto o esbofeteio, com a luva de pele com que nasci, e dizer-lhe, de seguida, que não conseguiu.

Gritarei com Deus, com Zeus, com Buda e Alá, insinuando-lhes a verdadeira loucura que nasceu comigo naquela tempestade de fogo, que me marcou os olhos, que me marcou a pele, que me impregnou a alma.

Desejo a sensualidade da última dança a percorrer-me cada poro da minha pele, levando-me pelo mesmo instinto carnal, que me leva a beijar-te os lábios com a paixão de uma vida só, da única vida a que temos direito, por leis que não são as nossas e que nos fazem passar os anos ansiando o entranhar da morte vinda numa barca qualquer, ultrapassando qualquer tempestade que se lhe atravesse no caminho.

Sem atrasos, na hora certa ela lá estará com o seu robe negro, e eu sorrindo, lhe direi que também eu venci o disforme Adamastor, e que assim como ela, estou pronto para a tempestade que se segue.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril Sempre

Faz hoje 34 anos que um grupo de capitães chefiados por Otelo Saraiva de Carvalho deu início à chamada revolução dos cravos.

A revolução, ou como outros lhe chamam de forma diminutiva, golpe de estado, trouxe-nos algo com que até ali só se podia sonhar, a liberdade de expressão.

Palavras, como liberdade, fraternidade e igualdade puderam, enfim, sair do imaginário dos portugueses e serem postas em acção.

O regime fascista começado por Salazar que havia sido entregue de mão beijada a Marcelo Caetano, terminaria agora de forma abrupta, com a marcha de chaimites carregadas de esperança até ao quartel do Carmo, esperança por um país melhor, sem opressão, sem tiques imperialistas e regido por uma ideologia democrática.

Naquele dia todos os portugueses foram irmãos, naquele dia o amor fraterno que colocou o primeiro cravo na espingarda de um soldado, incendiou o país com gritos de viva a liberdade e o de vitória.

Apenas 4 pessoas perderam a vida,durante a revolução. Digo apenas, porque para aqueles que sobreviveram para testemunhar aquele dia memorável, o número de baixas é considerado aceitável, excepto para as famílias desses 4 que pereceram às mãos de PIDES desesperados, com medo das represálias que eventualmente pudessem sofrer, devido a anos de repressão cometida. Por isso decido deixar aqui, às famílias de todos os que ali se perderam, a minha mais sincera homenagem.

Salgueiro Maia é, na minha imaginação, a personificação de Abril, aquele que sem medo decide colocar-se à frente de uma arma de braços abertos, assumindo, com a sua coragem e verticalidade de capitão, a responsabilidade de evitar que a revolução que trouxe a democracia a Portugal, se transformasse num banho de sangue. Salgueiro Maia, transformou-se com o passar dos anos no anti-herói da revolução, no homem que apenas esteve ali para cumprir aquilo que a sua consciência ditou, sem desejos de protagonismo, sem ambições. A imagem que me ficará para sempre é aquela em que o vemos andando e mordendo os lábios de forma a suster as lágrimas emotivas do dia histórico que havia vivido.

Salgueiro maia viveu até 1992, quando morreu de cancro, nunca assumiu qualquer cargo político.

Hoje mais do que nunca, com uma abstenção a rondar os 50%, temos de repensar os valores de Abril, devemo-lo a estes homens, que naquele dia conseguiram fazer o que até ali era impensável. A voz que nos deram deve ser aproveitada, o valor da democracia deve ser colocado no seu devido lugar, o respeito para com o outro deve de existir. Liberdade, fraternidade e igualdade, levantemos bem alto o ideal de Abril.

Dedicado a Salgueiro Maia, José Afonso, aos 4 civis mortos pela PIDE e sobretudo a Portugal.

Grândola Vila Morena

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Histórias que me contam

Contam-me coisas. Dizem-me que somos os dois como ondas que rebentam no mar, intensas e barulhentas.

Guardarei todas as palavras que me explicam como somos, pois sei que um dia elas serão necessárias para as reflexões diárias que nos obrigamos a fazer.

Sei que as histórias que me contam, do que nós vivemos do que nós sentimos, são apenas uma ilustração banal de duas vidas cuja intensidade de um dia se terem cruzado nos explode nas mãos.

Com as palavras ásperas e duras utilizadas na narração de todas essas histórias que me contam, faria sentido que nos propuséssemos a um exorcismo de almas apoquentadas pela dor e amargura, para que expulsássemos o mal que vem de dentro, como um ácido se tratasse que nos corrói o que consideramos puro.

Utilizam metáforas, para nos identificarem com algo que não sabem explicar pois nunca o sentiram, utilizam eufemismos para suavizarem o que nós passámos, quando nós e apenas nós, conhecemos o ardor que nos trouxe aos lábios.

Sei também que as histórias que me contam e cujo fundamento da verdade que nelas se conhece e se mostra ténue como o nevoeiro que atravessámos, nos proporcionam horas de meditação sobre o que de errado fazemos, para que nos contem histórias assim.

Em todos os eventos relatados nessas histórias apenas um considero válido, aquele em que atravessamos juntos o que nos ditou uma vida que, nas histórias que me contam, está longe de ser perfeita, mas só eu e tu, e de repente conseguimos, e isso para mim é o que conta.

Banho ao luar

Na noite em que finalmente o desejo tomou posse, na noite em que o luar nos levou lentamente à beira daquele riacho pomposo e irónico.

Na noite em que nada do que dávamos como certo se revelou realidade, na noite em que apenas os desejos contaram e que as dúvidas e os medos ficaram para trás. Nessa noite.

Tomámos banho, rodeados pelas árvores que deitavam os seus ramos por cima de nós, como se nos acarinhassem, como se nos vigiassem, como se cuidassem de nós.

Deixámos as multidões dos circos urbanos, seguimos por aquela estrada que só nós os dois conhecemos e agora ali estávamos, sem mais nada, vestidos apenas com os nossos sorrisos e movimentando-nos dentro de água numa lentidão propositada, para que nos pudéssemos olhar mais tempo, do que o necessário, mas o necessário foi, todo o tempo que demorámos a nos olhar.

Perdemos as nossas roupas na margem, perdemos o nosso medo, perdemos todo o sentimento de culpa, mas a inocência que nunca se perdeu foi como o fundamentalismo que nos juntou, foi tudo aquilo que julgámos ser, foi lindo, arrepiante, intenso como a corrente do rio que parou impassível para que pudéssemos nadar na sua mansidão.

Os corpos que se tocaram como se de uma seda rara do oriente se tratasse, com uma rota específica em que iria dar ao nosso único propósito, o sentimento por que nos perdemos. A força de tudo o que partilhámos naquele banho ao luar, ficou espelhada nas águas junto com as estrelas, junto com a própria lua que nos alumiou, astros que não mais fizeram senão interferir com o seu brilho, numa noite que se tornou ainda mais perfeita com a sua presença.

Quando a lua se escondeu e deu lugar a um sol que envergonhado, nos sorriu, decidimos seguir nossos caminhos que por um momento se cruzaram, momento esse que nunca se apagou da memória de quem o viveu, de quem o sentiu.

Naquela noite, uma dádiva, uma loucura os sábios que decidam, os conservadores que o julguem. Não pretendo ilusões nem pretendo nada mais do que para mim significou passar contigo aquela noite, naquele rio que hoje ainda se lembra de nós e do que ali se sentiu.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sons

Sons de risos rasgados em panos negros de cor, sons de lágrimas em lenços brancos, sons e apenas isso.

Quero ouvir o silêncio aquático de um mergulho eterno, em que a imagem do nada se funde na memória e em que a luz azul me leva para um sossego, onde levito impaciente.

Memórias de sons de acordes perdidos em noites de conversas, de leviandades em que a música das nossas vidas tocava e nós sorriamos com cumplicidade.

Sons de roupas a rasgarem com a fúria do amor, com a calma da paixão e em que eu e tu misturámos dor e prazer como se de uma bebida exótica e embriagante se tratasse.

Um som de dois batimentos cardíacos que se confundem e fundem num só, entre promessas de que ficaríamos juntos até quando víssemos a luz que nos levaria. Entre o ladrar dos cães que nos assustavam mas não nos demoviam de celebrar o que nos fazia deitar juntos.

Quero sentir de novo o som do tremor dos nossos corpos suados, por lutar contra os nossos fantasmas, juntos sem temer o inesperado que nos esperava, juntos sem temer nada, excepto a probabilidade de um dia algo nos separar.

Vivo a emoção de ouvir de novo o som do bater das asas de anjos nas ruas de Lisboa, junto ao Tejo, onde um dia te vi e onde sorrias, olhando para aquele que foi o lar de ninfas lusitanas e a inspiração dos mais impiedosos fados, mas tu sorriste.

Recordo o som da tua voz ecoando nos meus ouvidos, em que processava uma informação que me passavas devagar, com os lábios encostados aos meus precedendo um beijo que me iria explodir um mundo de sensações.

Recordo com um ardor desumano, o barulho dos passos que deste enquanto te afastavas, sem te lembrares dos sons que um dia sentimos.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Despedidas

Sem demoras, que seja rápido, a dor de te ver partir, de te ver dizer adeus é mais forte do que posso aguentar sem que as lágrimas me caiam dos olhos como se fosse uma criança perdida.

Quando me acordas, é para um mundo que quero para mim, onde desejo adormecer todas as noites e onde quero acordar nas manhãs de chuva e de sol, a teu lado e nunca longe de ti.

Ter de te dizer adeus, o facto de ficar sem ti durante segundos que parecem anos, não é sentimento que possa exprimir nestas palavras que hoje escrevo. Todos os pensamentos que hoje te dirijo, encara-os como o que de mais puro tenho para te dar, como se de uma carta íntima se tratasse e que um dia haverás de ler.

Sem ti sou como uma terra estéril, árida, em que nada cresce e sem nada para oferecer. Sinto uma dormência apoderar-se de mim, fico sem vontade de abrir os olhos de um sono que não tenho. Não, não te vás esta noite, fica mais um pouco para que possa sentir a tua pele, olhar nos teus olhos e encontrar de novo a alma que perdi e que encontro sempre que te sinto por perto.

Nestes dias em que te perco, nestas noites que passo acordado e te sinto afastar cada vez mais de mim, tornam-me uma pessoa que não quero ser, incompleta, sem poder partilhar sorrisos, lágrimas, a alegria ou a melancolia. Quero que sejas minha para sempre e que o espaço não exista entre nós e que tudo o resto seja nada mais do que um mero detalhe.

Não me obrigues a passar por despedidas que nunca existiram, mas que foram sentidas, nunca hesites em me encontrar sempre que te tentas afastar, pois eu estarei lá olhando para ti enquanto te afastas, esperando que esta não seja uma despedida perfeita e que acabes por voltar para mim.

Sabes que nunca gostei de despedidas, por mais perfeitas que sejam.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Deixa-o Ir

Deixa o peso que carregas nas tuas costas desaparecer, deixa que a dor desapareça, nem que seja por uns segundos.


Deixa que o tempo, esse teu velho conhecido, cure as tuas feridas, aproveita as horas, os minutos, os segundos e utiliza-os em teu proveito, usa e abusa daquilo que é realmente teu.

Talvez a próxima hora seja melhor do que esta que está a acabar, talvez a próxima semana, talvez os próximos 5 anos, não importa. Continua, as tristezas que hoje o dia te trouxe não as terás amanhã, preserva-as na memória como naquele dia de Janeiro, em que a chuva se confundiu com as tuas lágrimas quando ninguém reparava, faz por não deixar que essas mágoas te consumam a vida como a chama consome o pavio.

Utiliza as pequenas maravilhas que te fazem parar, que te fazem os olhos brilhar usa-as como unção para as tuas feridas, usufrui do pôr-do-sol como se de ar se tratasse e respira-o, sente-o entrar nos pulmões como se fosse crucial para a tua vida.

O destino que te aguarda é o que tu fizeres dele, não temas o que desconheces e recebe a dádiva das manhãs, o fervor das tardes e a paixão das noites. O tempo que passa, esse não importa, não faças luto pelos anos que viveste, recebe antes os anos que estão por vir de braços abertos, como de se um novo amor se tratasse.

Sente a pressão de amar, sente a nostalgia do luar, sente as tristezas, sente o barulho de uma onda rebentar na praia, faças o que fizeres sente-o.

Larga o peso que carregas nas costas, por mais que te custe, deixa-o ir.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Dia do Pai

Aproxima-se o dia do pai, de todos os dias do calendário escolheram um para enaltecer as qualidades ou as funções paternas.

Será necessário? Será que o facto de se ser pai tem de ser recordado? Será que os filhos não se recordam que o pai existe, ou em alguns casos, existiu?

A paternidade deve ser de facto algo indescritível, os sentimentos de quem gera uma vida, de quem a vê crescer, de quem a sente próxima e a vontade de a proteger de todos os males que nos rodeiam, deve ser de facto algo que nem o maior cientista, sociólogo ou filósofo consegue explicar.

O que também não se consegue explicar, são por vezes os maus tratos que algumas crianças recebem de quem as devia proteger, problemas como o alcoolismo, a toxicodependência, a ausência, deitam por terra tudo o que se entende por paternidade.

O dia do pai não deve ser utilizado como forma dos filhos se recordarem dos seus progenitores, mas sim de recordar os pais da sua responsabilidade para com os seus filhos. Os pais não devem pedir reconhecimento aos filhos, os pais devem isso sim estar reconhecidos aos filhos pelas alegrias, pelos sorrisos, pelas primeiras palavras, pelos primeiros passos e a tudo o que lhes foi doado pelo simples facto de terem colocado uma criança no mundo, que por sua vez nem pediu para cá estar.

O reconhecimento, de quem é pai, deve chegar na altura de ter netos e se repara que os seus filhos tentam dar a educação que um dia lhes foi transmitida a eles e eles próprios a tentam seguir. O reconhecimento chega quando pai e filho se sentam numa mesa e conseguem falar sem que um sinta desdém de falar com o outro, quando falam de igual para igual, sem medos, sem receios, sem apertos no peito de culpa ou de ansiedade.

Já agora isto vale também para o dia da mãe.

quinta-feira, 13 de março de 2008

quarta-feira, 12 de março de 2008

Parabéns a Todos os Professores

Pela luta incrível que têm travado e pela dedicação de sempre.

Coloquemos os olhos nesta mobilização e observemos o que se consegue atingir quando nos unimos por um objectivo comum.

Final Feliz

Os finais felizes não existem.

Sim, meus amigos pasmem-se aqueles que sempre acreditaram nas histórias da Disney em que o príncipe levava a Branca de Neve para o castelo para viverem felizes para sempre e consideravam isso o final feliz.

O que nos esqueceram de dizer foi que ainda agora as coisas tinham começado para os dois, em primeiro lugar sabemos que ninguém vive para sempre, logo, a mentira começa aqui e depois sinceramente, acho que a Branca de Neve insistiu em levar os Sete Anões, exigência que levou o príncipe, coitado, a um esgotamento derivado das sucessivas tentativas para decorar o nome dos 7.

Piadas à parte, vamos dissertar sobre a questão que nos traz hoje aqui, que é a tal dos finais felizes. Sabemos de antemão que se algo acaba ou chegou ao final é porque se esgotou, já não havia nada a fazer, logo nunca poderemos dizer que o final é algo de bom, pois significa que qualquer coisa chegou ao fim, e meus amigos, os finais deixam sempre marcas.

Se acabamos algo que corre bem e chegámos ao objectivo com distinção, com louvor, não é o final que é feliz, é o que foi feito até ali que nos deve deixar verdadeiramente felizes e que nos deve elevar o moral. O esforço, a dedicação no dia-a-dia, esses sim, devem ser os objectivos de cada um e não o final feliz de um louvor, pois o que nos deixará felizes com nós próprios é o caminho percorrido e não o que alcançámos.

Quando amamos alguém não é o casamento o final feliz, esse sinceramente, poderá ser o inicio da infelicidade a menos que tratemos de respeitar, de honrar e de cuidar de quem amamos e para isso não é necessário casar como nos fizeram crer há muitos anos atrás.

O que quero dizer com isto, é que o amor não é o final feliz porque todos ansiamos, mas poderá isso sim ser o início da felicidade.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Remodelações

A notícia de destaque na imprensa de hoje, é sem dúvida, a demissão do ministro da saúde Correia de Campos, do governo liderado por José Sócrates.

A substituição de um ministro que viu o seu nome ser completamente arrasado na praça pública , não deixa de me causar uma certa estranheza, visto que, as politicas implementadas pelo mesmo, sempre foram defendidas por todo o executivo deste governo. Essa estranheza é justificada por uma dúvida e por uma surpresa que passo a vos manifestar.

A dúvida que me assola relativamente às intenções desta remodelação é justificada, quando verifico que a substituta prevista para ocupar a cadeira máxima do ministério da saúde é, vejam só, uma apoiante à candidatura de Manuel Alegre nas eleições presidenciais, sendo ainda mais estranho o timing escolhido, ou seja, logo após uma intervenção deste ex-candidato a criticar severamente o Sistema Nacional de Saúde.

Ana Jorge, de seu nome, pediatra de profissão, vem agora tomar conta de um dos ministérios mais complicados e que enfrenta a maior contestação de sempre, na história da democracia portuguesa. Não me surpreende a escolha, isto no que diz respeito à profissão, visto que, sendo médica recebe automaticamente o apoio quase incondicional da ordem dos médicos, e tendo como especialidade a pediatria, é vista com maior simpatia pelos portugueses cá do burgo, pois se gosta de crianças, a preocupação nutrida pelas questões levantadas e que apela à sensibilidade política para a sua resolução há-de, com certeza, ser agora melhor compreendida pela Srª ministra.

A surpresa, a segunda razão que me leva a comentar este assunto, passa por o Sr. 1º Ministro José Sócrates ter escolhido uma pessoa que já teve um processo de desvio de dinheiros públicos (fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1318086&idCanal=12). Depois do aparato noticioso, relativamente às suspeitas de fraude no BCP, seria de esperar, que o 1º Ministro fosse um pouco mais cuidadoso com quem escolhe para a frente dos seus ministérios. Não quero com isto dizer que a Sr.ª Ana Jorge tenha sido culpada de algo, pois de acordo com a resolução do tribunal arbitral que a absolveu, a Sr.ª é mesmo inocente quanto às acusações que recaíram sobre ela, mas sabemos de antemão que o facto de já ter estado envolvida num caso desta natureza, poderá eventualmente a condicionar a sua actuação.

Concluindo, na minha opinião esta remodelação apenas é o início de uma tentativa de demonstrar aos portugueses duas coisas. A primeira é que Sócrates é um homem à esquerda assim como o governo que dirige, senão, que outra razão teria, para dar ouvidos a Manuel Alegre, assumidamente um dos maiores críticos da governação actual, e um homem cujos créditos de esquerdista não deixa por mãos alheias? A segunda, é que com a proximidade das eleições legislativas, Sócrates, verificando que a sua popularidade começa a diminuir para índices muito aproximados aos de Cavaco Silva no final do seu segundo mandato como 1º ministro, está disposto a mudar algo, de preferência, aquilo que o tem vindo a afastar do seu eleitorado.

Já agora, e por falar em saúde e em médicos, alguém me sabe explicar como estão os médicos a acatar a regra do pico de ponto nos hospitais? É que sinceramente acho que não a andam a cumprir. Fica o apelo à nova ministra para uma melhor fiscalização deste assunto.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Insónia


O sono que falha, os pensamentos que fluem, as preocupações que afligem.

Tudo parece mundano àquele que não dorme, a futilidade da vida que passa em horas mais curtas do que realmente são, levam-te a pensar na rapidez com que tudo surge, com que tudo desaparece.

A vontade de não dormir está lá, porque não queres perder pitada de uma vida que por mais fútil que seja é a única que vais viver, o querer aproveitar todos os segundos, todas as lufadas de um cigarro que se esfume num fumo denso de pensamentos e de leviandades.

As vontades que se perdem e que se movem de um lado para o outro como se quisesses sempre aquilo que não tens, mas queres mais ainda e sempre mais.

Procuras por sensualidade, procuras por realidade, por compatibilidade, por inocência, mas o que procuras realmente é encontrares-te a ti próprio nem que seja por um milésimo de segundo e esperares que este dure uma eternidade numa noite que já vai longa.

A insónia raia-te os olhos de raiva, de prazer, de loucura mas essencialmente de desespero por não conseguires o que na realidade já tens… uma vida.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Para ti


Para ti que sabes que quando me perder, basta-me procurar pela tua luz, pelo teu sentido de sentir, basta-me olhar para os teus olhos e desejar estar junto a ti.
Os teus olhos que se exprimem e que me alumiam a alma, que me fazem perder numa flora que já vi há uns anos.
Como te chegar? Como te tocar na alma que me parece fugidia, como te sentir os cabelos que tanto desejo cheirar, e como passar os meus dedos nas tuas costas nuas?
Quando te penso a pensar em mim, o sorriso acompanha-me os lábios, o juízo fica mais ligeiro, e quanto mais os dias passam, mais te desejo junto de mim.
Se a chuva um dia te incomodar acolhe-a como lágrimas de quem quer estar junto a ti e não está, como quem desejaria chegar a ti o mais rápido possível e escolheu as nuvens como um meio de transporte qualquer.
Nunca percas as expressões que me alegram as noites, nem nunca te esqueças dos beijos que ficaram por te dar.

Nós

Cada dia que passa, cada hora, cada minuto, cada segundo…
A vida passa, sem contemplações, e quando menos esperamos olhamos para trás e aquilo que vemos não é aquilo que esperávamos ver.
Aqui há uns dias, vi um antigo 1º ministro, aquele que é agora empresário dono de uma rede de televisão dizer que o “povo português é pessimista por natureza” que quando nos perguntam se está tudo bem respondemos um tímido mais ou menos, que não somos capazes de responder, com um “está tudo óptimo”.
No que diz respeito a essa questão eu gostaria de focar que o pessimismo existente nos portugueses existe sim senhor, mas em grande parte, devido a pessoas como esse senhor que nos governaram e continuam a governar, que durante anos não foram capazes de nos dar algo com que nos orgulhássemos, com que fossemos capazes de olhar para trás e disséssemos “afinal aqui está algo bem feito”.
Sim realmente, temos pontes, estradas, a até projectos para novos aeroportos, mas…, falta-nos algo que realmente nos diga que valeu a pena estes anos de sacrifício em que passámos fome, tivemos uma péssima gestão na saúde, na educação e em quase tudo o resto, excepto naquilo que realmente interessa €uros de construtores e empreiteiros sempre dispostos a receber uma parte choruda dos nossos impostos.
A sociedade, não é só economia, também é espírito, e principalmente solidariedade para com o próximo. Uma sociedade deve ser una, indivisível, com valores fortes de cidadania e principalmente de justiça, que nos é negada de dia para dia, com leis que apenas visam retirar trabalho aos tribunais, de forma a que, estes consigam ultrapassar as pilhas de processos que se acumulam nos seus corredores.
Para cúmulo agora temos uma ASAE que mais parece uma polícia política, mas que em vez de nos reprimir politicamente, nos tenta reprimir culturalmente, economicamente e no que diz respeito à sua forma de agir deixa muito a desejar…
Parece que tudo à nossa volta está impingido de germes e a ASAE é a lixívia que os vai aniquilar de uma vez por todas. Nem a célebre ginginha escapou, talvez o próximo seja o casino Estoril… ai desculpem, afinal os casinos são de outro planeta e parte integrante da nossa cultura, o Júlio César que o diga.