"Detesto este silêncio que me ensurdece"
terça-feira, 1 de junho de 2010
Abre os olhos
Abre os teus olhos, sonha comigo e prometo não ser em vão.
Abre os teus olhos, liberta-te do pó que te cega e vem comigo, deixa-me levar-te onde nunca foste, deixa-me carregar-te no meu colo enquanto dormes, para depois acordarmos juntos.
Deixa-me ser o teu sonho, nem que seja por uma noite, deixa-me fazer-te perder, nem que seja durante umas horas.
Leva-me contigo a sítios onde só nós conhecemos, onde uma rocha tem o significado de um mundo, onde uma onda significa um oceano.
Deixa-me por uns momentos imaginar que sou teu.
Não percebes que quero estar contigo? Não percebes que me fazes falta?
Que me leves, que seja eu a levar-te, o que quero é estar junto a ti.
Quero perder o meu tempo a ver a água correr debaixo da ponte, quero perder o meu tempo a ouvir o vento sussurrar-me nos ouvidos, quero perder o meu tempo a teu lado. Ser teu.
Quero que os meus anos me pareçam dias com menos horas que o normal, com a lua a despedir-se mais cedo que o habitual e que o sol me sorria ainda de noite, pois contigo o tempo parece que não conta, parece que os anos contam como horas num ritmo que teima em me alucinar de tão rápido se torna.
Queria que os meus lábios te transmitissem a confiança que te falta, que sou teu, que nada me há-de separar do que amo, que nada me fará despedir de quem desejo.
Segura-me nos braços enquanto me perco na imensidão do desejo, enquanto me perco na imensidão que és tu.
Abre os teus olhos e repara no que está ao teu alcance, a vida, um desejo, um beijo, a imensidão do amor.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Pára
Cessa com os pensamentos que me deitam abaixo, com os modos que me levam à loucura, deixa-me gritar a mim desta vez, expulsar demónios que me perseguem sem a piedade que ansiei durante mais tempo que poderia aguentar.
Deixa-me sossegar, olhar apenas para o vento que faz respirar, que me faz desejar ser levado por ele.
Quero me perder numa poeira que me tenta, que supostamente me faria perder uma vida que já de si, tem pouco para dar.
Diz-me que sim de uma vez por todas. Leva-me nos braços e faz-me atravessar o rio que me fará chegar ao vale das sombras inquietas e que ardem num inferno perfurante de dor e ansiedade, desta forma, alguma coisa faria sentido e saberia onde me encontro.
Pára de me tentar levantar quando o que desejo é me consumir no desespero da minha própria visão negra de um mundo que não me atrai, em que a traição não é nada mais que uma miragem que me persegue, e me atormenta como se se tratasse de um gume de um punhal ferrugento que encontrei numa das estradas onde me perdi.
O caminho que escrevia para mim foi corrido com a ansiedade dos ingénuos e encontro-me no seu fim, olho em redor e assusto-me com o que vejo.
Fazes-me parar, repensar tudo de novo e escolher um caminho de luz e clareza, algo raro nos meus dias.
Quero te dizer que pares, quero que me deixes na escuridão que mereço e por que desespero.
Quero te dizer que não me sigas porque não faria mais do que arrastar a luz para a escuridão, fazendo-te extinguir como me extingui a mim próprio.
O meu peito arde porque sinto a tua falta, porque sinto que me salvaste e me voltarias a salvar de novo se assim te o pedisse, deixa-me seguir, deixa-me partir. Não mereço mais do que isso.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Deitei-me a teu lado
Imaginei que te passava a mão pelo cabelo enquanto olhava nos teus olhos de um castanho profundo e triste.
Disseste-me que te fazia chorar.
Disseste-me que te via a alma, que te dizia o que pensava ao invés dos que te nunca te tentaram compreender.
E enquanto a voz te passava pelos lábios, pensava que um dia poderia ter sido teu, que um dia enquanto te amei, me pudesses ter amado também. Quanto eu o desejei…
Como quis que aquela angústia te passasse, como quis que as águas que passaram por baixo da tua ponte, te tivessem saciado a sede, mas ao invés de uma água doce viste passar o sal emanado das tuas lágrimas.
Não o mereces, não mereces a dor que te faz pensar em algo que não deves, mereces a luz de uma vida que anseias, mereces carregar no teu ventre a felicidade e não a angústia da perda, mereces que os desejos sejam apenas a confirmação da tua felicidade.
Deitei-me a teu lado noites consecutivas, como um ser invisível a teu lado, vi-te dormir e tentei entrar nos teus sonhos, tentei fazer parte deles, nunca soube se o consegui, ao contrário de ti que sempre fizeste parte dos meus.
Sonhos em que nos encontramos ao pé de uma escultura de aço que se enferruja com o passar dos anos, em dias de sol que de repente se transformam em noites de consciência e de paixão, como se ambas fossem compatíveis, um pouco como nós, que nunca o saberemos.
Continuarás sempre a ser aquela rapariga de um mar de paixão em que me naufraguei.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Torres da Paz
Senti o ardor de um coração despedaçado que me deixou prostrado no chão como um defunto que ali encontraram. Quis o sonho que comanda a vida imaginar-me. um dia, alguém que pudesse compreender o que nunca consegui.
O sonho transformou-se, a realidade parece mais cruel tornando-se em algo mais cru e seco, tornou-se numa vida que desconheço onde acaba.
Não consigo que o barulho de um comboio perdido numa linha que não entra em lado algum e se perde no espaço e no tempo de alguém que não quer que ele avance, não quero que o corte que hoje fiz me faça arrepender do que não fiz.
Quero me enfurecer contigo, quero lançar raios de descontentamento por cada vez que me apareces numa mente, já de si perturbada, pelo barulho de uma chuva que me parece ácida.
Porque me deixas sem ver na floresta, perdido na imensidão da dúvida, porque me deixas tu sem perceber quem realmente és.
Não te sinto, não te anseio por um minuto, no entanto fizeste-me falta por uma vida inteira de ardor, de abismo, como uma pneumonia que me impedia de respirar por não estares a meu lado.
Sopra-me a alma, diz-me que quando chegar a ti, te entregarás a uma evidência que nunca considerei, que sempre me fugiu.
Quero entrar nessas torres da paz em que me abrigarei, em que procurarei pelo abrigo que sempre tive em castelos medonhos e impiedosos, feitos numa madeira rangente e bafienta, retardada como uma foto tirada há décadas.
Sobe a mim, sobe a uma luz que chama por ti, para te fazer voltar à escuridão de uma vida que planeei para nós, sem tu saberes, sem tu imaginares, pois nunca te confidenciei.
Senti que era mais um que conhecias em cada vez que me encontravas. Contornaste-me como um objecto a que somos indiferentes, que nos obriga a mudar a direcção, tornaste-me em algo que te causa angústia.
Deste-me 5 moedas de prata, para que te amasse enquanto que apenas seria necessário um sorriso enquanto te interrompia, nas tuas voltas frenéticas de faíscas e sons que achei estranhos e incompreensíveis,mas que para ti faziam mais sentido que eu.
domingo, 18 de outubro de 2009
Dançamos?
Receamos de olhos fechados que esta talvez seja a nossa última dança, enquanto nos perdemos nos braços um do outro, não receies, deixa-te levar, deixa-me acreditar que neste 4 minutos que nos restam seremos um só.
Ao som que sentimos os dois, as nossas vidas se cruzarão e a beleza de um bater do coração mais acelerado comandará as nossas vidas e enquanto sentimos os acordes de uma guitarra que nos atravessa a pele e nos toca a alma, tentamos seguir caminhos separados.
Nestes breves minutos que nos sobram quero te pedir que me abraces, que me sintas junto a ti para poder continuar a sonhar, para poder continuar a viver por ti.
Enquanto nos for possível, até que aquele som que nos percorre o corpo finde, quero dançar contigo, movimentar o corpo junto ao teu, sentir o teu peito no meu, o calor das nossas faces juntas, e segredar-te algo ao ouvido.
Quero tentar de novo, quero que estes sejam os 4 minutos mais longos de nossas vidas, que sejam aqueles minutos que consigam a obra de uma vida inteira, para que da próxima vez consigamos fazer tudo de novo, mas mais bem feito, com a perfeição de dois seres que se amam e se perdem em conjunto.
Não estou pronto para o final, não estou pronto para deixar de seguir-te nos passos desta dança que durará apenas uma fracção de nossas vidas mas que terá a importância das marés, que terá a importância da chuva na terra árida que anseia por vida.
Não me lembro da última vez que me senti tão bem, não me lembro da última vez que sobrevoei montanhas como um avião de papel, feito por mãos de uma criança cujos olhos brilharam assim que me viram partir. Não quero perder esta leveza que me foi roubada uma vez e que agora recupero contigo.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Voar
Que os apêndices de dor que me preenchem a mente se desvaneçam por uns momentos que serão considerados preciosos.
É esta a fantasia com que vivo, de me sentir como uma ave que voa num sentido sem qualquer destino e apenas pelo prazer de planar os céus, pelo prazer de sentir o ar passar por debaixo de seu corpo, imune a pressões que a trazem para baixo e tentam findar com o júbilo de voar.
Que se libertem as correntes de expressão, que se liberte a palavra para que possa dizer simplesmente o que me vai na alma ansiando que o marasmo do silêncio termine.
O sentimento dominante que me faz desejar por algo mais do que simplesmente o olhar que se perde na imensidão do toque que existiu um dia, que acabe de uma vez por todas ou então que me leve a agir com as forças que um dia desejei sentir.
O entorpecimento dos músculos de um corpo que experimenta a idade e de uma mente que se ressente dos atropelos com que a afligi faz com deixe de tentar de sentir a emoção de viver, passando a estar dormente numa vida que há muito procura um novo sentido.
Um dia sonhei cair de uma ponte bem alta, uma altura que me fez perder a noção de queda e passei, por instantes por uma sensação de voo a pique como uma ave de rapina e o que deveria ser um simples pesadelo transformou-se num sonho que jamais esqueci, transformou-se numa imensa fantasia sem que qualquer explicação fosse necessária.
Uma metáfora já batida, a de voar e de querer estar junto a ti durante horas sem limite, para que dessa forma pudesse viver o sonho de te sentir mais uma vez pois és tu que me fazes voar, és tu a fantasia que me foge por entre os dedos, e não sei o que fazer para a manter.