sexta-feira, 18 de abril de 2008

Banho ao luar

Na noite em que finalmente o desejo tomou posse, na noite em que o luar nos levou lentamente à beira daquele riacho pomposo e irónico.

Na noite em que nada do que dávamos como certo se revelou realidade, na noite em que apenas os desejos contaram e que as dúvidas e os medos ficaram para trás. Nessa noite.

Tomámos banho, rodeados pelas árvores que deitavam os seus ramos por cima de nós, como se nos acarinhassem, como se nos vigiassem, como se cuidassem de nós.

Deixámos as multidões dos circos urbanos, seguimos por aquela estrada que só nós os dois conhecemos e agora ali estávamos, sem mais nada, vestidos apenas com os nossos sorrisos e movimentando-nos dentro de água numa lentidão propositada, para que nos pudéssemos olhar mais tempo, do que o necessário, mas o necessário foi, todo o tempo que demorámos a nos olhar.

Perdemos as nossas roupas na margem, perdemos o nosso medo, perdemos todo o sentimento de culpa, mas a inocência que nunca se perdeu foi como o fundamentalismo que nos juntou, foi tudo aquilo que julgámos ser, foi lindo, arrepiante, intenso como a corrente do rio que parou impassível para que pudéssemos nadar na sua mansidão.

Os corpos que se tocaram como se de uma seda rara do oriente se tratasse, com uma rota específica em que iria dar ao nosso único propósito, o sentimento por que nos perdemos. A força de tudo o que partilhámos naquele banho ao luar, ficou espelhada nas águas junto com as estrelas, junto com a própria lua que nos alumiou, astros que não mais fizeram senão interferir com o seu brilho, numa noite que se tornou ainda mais perfeita com a sua presença.

Quando a lua se escondeu e deu lugar a um sol que envergonhado, nos sorriu, decidimos seguir nossos caminhos que por um momento se cruzaram, momento esse que nunca se apagou da memória de quem o viveu, de quem o sentiu.

Naquela noite, uma dádiva, uma loucura os sábios que decidam, os conservadores que o julguem. Não pretendo ilusões nem pretendo nada mais do que para mim significou passar contigo aquela noite, naquele rio que hoje ainda se lembra de nós e do que ali se sentiu.

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