sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril Sempre

Faz hoje 34 anos que um grupo de capitães chefiados por Otelo Saraiva de Carvalho deu início à chamada revolução dos cravos.

A revolução, ou como outros lhe chamam de forma diminutiva, golpe de estado, trouxe-nos algo com que até ali só se podia sonhar, a liberdade de expressão.

Palavras, como liberdade, fraternidade e igualdade puderam, enfim, sair do imaginário dos portugueses e serem postas em acção.

O regime fascista começado por Salazar que havia sido entregue de mão beijada a Marcelo Caetano, terminaria agora de forma abrupta, com a marcha de chaimites carregadas de esperança até ao quartel do Carmo, esperança por um país melhor, sem opressão, sem tiques imperialistas e regido por uma ideologia democrática.

Naquele dia todos os portugueses foram irmãos, naquele dia o amor fraterno que colocou o primeiro cravo na espingarda de um soldado, incendiou o país com gritos de viva a liberdade e o de vitória.

Apenas 4 pessoas perderam a vida,durante a revolução. Digo apenas, porque para aqueles que sobreviveram para testemunhar aquele dia memorável, o número de baixas é considerado aceitável, excepto para as famílias desses 4 que pereceram às mãos de PIDES desesperados, com medo das represálias que eventualmente pudessem sofrer, devido a anos de repressão cometida. Por isso decido deixar aqui, às famílias de todos os que ali se perderam, a minha mais sincera homenagem.

Salgueiro Maia é, na minha imaginação, a personificação de Abril, aquele que sem medo decide colocar-se à frente de uma arma de braços abertos, assumindo, com a sua coragem e verticalidade de capitão, a responsabilidade de evitar que a revolução que trouxe a democracia a Portugal, se transformasse num banho de sangue. Salgueiro Maia, transformou-se com o passar dos anos no anti-herói da revolução, no homem que apenas esteve ali para cumprir aquilo que a sua consciência ditou, sem desejos de protagonismo, sem ambições. A imagem que me ficará para sempre é aquela em que o vemos andando e mordendo os lábios de forma a suster as lágrimas emotivas do dia histórico que havia vivido.

Salgueiro maia viveu até 1992, quando morreu de cancro, nunca assumiu qualquer cargo político.

Hoje mais do que nunca, com uma abstenção a rondar os 50%, temos de repensar os valores de Abril, devemo-lo a estes homens, que naquele dia conseguiram fazer o que até ali era impensável. A voz que nos deram deve ser aproveitada, o valor da democracia deve ser colocado no seu devido lugar, o respeito para com o outro deve de existir. Liberdade, fraternidade e igualdade, levantemos bem alto o ideal de Abril.

Dedicado a Salgueiro Maia, José Afonso, aos 4 civis mortos pela PIDE e sobretudo a Portugal.

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