quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sons

Sons de risos rasgados em panos negros de cor, sons de lágrimas em lenços brancos, sons e apenas isso.

Quero ouvir o silêncio aquático de um mergulho eterno, em que a imagem do nada se funde na memória e em que a luz azul me leva para um sossego, onde levito impaciente.

Memórias de sons de acordes perdidos em noites de conversas, de leviandades em que a música das nossas vidas tocava e nós sorriamos com cumplicidade.

Sons de roupas a rasgarem com a fúria do amor, com a calma da paixão e em que eu e tu misturámos dor e prazer como se de uma bebida exótica e embriagante se tratasse.

Um som de dois batimentos cardíacos que se confundem e fundem num só, entre promessas de que ficaríamos juntos até quando víssemos a luz que nos levaria. Entre o ladrar dos cães que nos assustavam mas não nos demoviam de celebrar o que nos fazia deitar juntos.

Quero sentir de novo o som do tremor dos nossos corpos suados, por lutar contra os nossos fantasmas, juntos sem temer o inesperado que nos esperava, juntos sem temer nada, excepto a probabilidade de um dia algo nos separar.

Vivo a emoção de ouvir de novo o som do bater das asas de anjos nas ruas de Lisboa, junto ao Tejo, onde um dia te vi e onde sorrias, olhando para aquele que foi o lar de ninfas lusitanas e a inspiração dos mais impiedosos fados, mas tu sorriste.

Recordo o som da tua voz ecoando nos meus ouvidos, em que processava uma informação que me passavas devagar, com os lábios encostados aos meus precedendo um beijo que me iria explodir um mundo de sensações.

Recordo com um ardor desumano, o barulho dos passos que deste enquanto te afastavas, sem te lembrares dos sons que um dia sentimos.

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